A gravidez precoce como factor no abandono escolar: Breve olhar sobre a realidade na escola José Manuel Salucombo (Saurimo/Lunda-Sul)
Leoplodino Alberto Vitumbaca
Instituto Superior de Ciência da Educação de Luanda ( ISCED-LUANDA)
Resumo:
Neste texto, pretendemos compreender como a gravidez precoce influencia no abandono escolar. Sendo que, a gravidez tornou-se num fenómeno bastantes observado no seio da nossa sociedade (angolana). Apresentaremos as suas causas e consequências, bem como as abordagens dos estudantes e membros de direcção da instituição de ensino acima referida. Neste contexto, pretendemos analisar o que tem levado as adolescentes grávidas abandonarem a escola de forma precoce?
Palavras chaves: Gravidez precoce, Factor e Abandono escolar.
Abstract
In this research, we want to understand how early pregnancy influences in school leaving. Since pregnancy has become a phenomenon that has been observed in our (Angola) society. We will present its causes and consequences, as well as the approaches of studentes and management members of the educational instituion mentiond above. In this context, do we want to examine wat has led pregnant teenagers to leave school early?
Key-words: Early pregnancy, Factor e school leaving
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é o resultado duma pesquisa qualitativa, realizada entre os meses de Junho à Julho de 2017, na escola do segundo ciclo do ensino secundário ‘José Manuel Salucombo, a mesma situa-se no Município de Saurimo, a capital da província da Lunda-Sul. É uma escola do II Ciclo do ensino secundário (PUNIV), onde são ministrados os cursos de Ciências Económicas e Jurídicas, Ciências Físicas e Biológica bem como Ciências Humanas, nos dois períodos ‘regular e pós-laboral’ onde procuramos reflectir em torno da problemática da gravidez precoce como factor do abandono escolar, que tem transformando a vida de muitos adolescentes de modo incontrolável naquela região do país, e na sociedade angolana em geral. Pois que, o ambiente actual tornou-se grande gerador de instabilidade nos indivíduos, impossibilitando, em última instância, o controle sobre suas vidas. Como consequências dessa dinâmica da sociedade, surgiriam muitas dificuldades para os adolescentes, como marginalidade, violência, liberdade sexual, uso de drogas e gravidez dentro dessas questões. Para tal, realizamos um inquérito com 11 entrevistados para percebermos até que ponto a gravidez precoce influencia no abandono escolar.
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Trabalho realizado e apresentado na Disciplina de História do Pensamento Sociológico Contemporâneo II (HPS II) em 2018 no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, e revisado em Julho de 2019;
Estudante de Licenciatura do Ensino da Sociologia no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED-Luanda);
Publicado no dia 23 de Julho de 2019 in politica210.wordpress.com
Professor no Complexo Escolar Privado
E-mail: vitumbacaleo@gmail.com
A gravidez na adolescência é um fenómeno que vem sendo discutido a cada ano no nosso país, mais sem conclusões e recomendações eficientes na prática, geralmente os discursos políticos andam de mãos separadas com as execuções práticas de certas políticas públicas ligadas ao sector da educação. O índice elevado de gravidez em adolescentes é apontado como uma das principais causas de desistência de meninas das aulas nas instituições de ensino da Lunda-Sul.
Segundo Fukiady e Teresa (2019) A Lunda-Sul lidera a lista de gravidezes precoces em Angola com, pelo menos, 2.471 adolescentes grávidas, com idades entre os 14 e os 18 anos, avançou, esta semana, o chefe do departamento de Saúde Reprodutivo do Ministério da Saúde, Mansitambi Luz, durante a abertura do ciclo de palestras sobre gravidez precoce e abuso sexual. Já a Huíla ocupa o segundo lugar com 2.348 casos de gravidezes precoces registados em 2018, e o Moxico aparece em terceiro lugar na lista, com 2.295 casos. Em 2017, foram registadas 1.762 grávidas, sendo 1.155 menores de idade, 60 das quais foram submetidas a cesarianas por várias causas.·.
CONCEITO DE GRAVIDEZ PRECOCE
Segundo MORAIS (apud, Monteiro et al, 2018), entende-se por gravidez na adolescência a gestação que ocorre envolvendo jovens de ate 20 anos que se encontram, dessa forma, no auge dessa fase da vida. E a filha que e gerada na adolescência, em geral, não foi planeada e nem desejada e acontece em meio a relacionamentos estáveis.
De acordo DIAS et al (apud, Araújo et al 2016,p26):
‘’Com a aceleração do crescimento, os estímulos sexuais, hormónios e o estilo de vida adoptado pelas garotas, a menarca está ocorrendo mais cedo, visto que antigamente aconteciam por volta dos 12 anos de idade ou mais ,nos dias de hoje a maioria das garotas está tendo sua menarca aos 9 anos de idade , tornando-se um factor de risco para o início mais precoce da actividade sexual, e consequentemente à uma gravidez na adolescência. Cerca da metade de todas as gestações nesse período de vida, ocorre nos primeiros 6 meses após a 1ª relação sexual’’.
A gravidez precoce é aquela que admite tanto a imaturidade do corpo adolescente (sob o ponto de vista biológico) para uma gravidez como a imaturidade emocional da adolescente como pessoa, considerando a indefinição de muitos aspectos da vida, como o estudo, trabalho, autos-sustento FENAUP (apud, Cláudia et al:2015 p. 76).
Desta forma, conceituamos a gravidez precoce, como aquela que ocorre em meninas e adolescentes, a partir da puberdade, quando começa o processo de alterações físicas que fazem da rapariga uma mulher com capacidade para a reprodução sexual. Mias que não significa, porém, que a menina esteja preparada para ser mãe. Sendo um dos fenómenos sociais que preocupa muito os pais na nossa sociedade, pois que, tem se verificado muitos casos do género.
CONCEITO DE ABANDONO ESCOLAR
O abandono escolar é um problema do domínio da conduta de um indivíduo e traduz-se na decisão de deixar a escola sem completar o nível de ensino desejado. Acrescenta também que esta não é uma decisão repentina, mas produto de um longo processo de tensões, desajustamentos, fracassos e desinteresse pela escola. A investigadora afirma ainda que a saída antecipada da escola põe em causa o valor instrumental da escola, como participante no desenvolvimento pessoal e de preparação para a vida ativa que o aluno se nega a reconhecer. Santos (apud, Medeiros et al:2013).
O abandono escolar refere-se ao aluno que deixa a escola sem concluir o grau de ensino frequentado por outras razões que não sejam a transferência ou a morte. “Saber que se trata de abandono (no final do ano lectivo) ou de desistência (durante o ano) pode ser relevante para a compreensão dos motivos e das situações, mas não altera o fundamental.” Benavente et. al (apud, Medeiros et al, 2013: pp. 23-25).
Nesta perspectiva compreendemos o abandono escolar como o acto de deixar a escolar antes do tempo previsto para a formação. Isto é, à saída de um aluno da escola antes do final da sua formação lectivo que estava a frequentar em que estava matriculado.
TEORIA DA ESTIGMATIZAÇÃO E A IDENTIDADE SOCIAL
Estigma é a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena, estabelece uma relação entre a identidade social. Ou seja, um estigma constitui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real. Um tipo especial de relação entre atributos e estereótipo, Goffman (apud Maria, 2015:34).
Portanto, para Goffman (Idem, p.35) “a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias”. Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade serem nelas encontradas. Assim, Goffman destaca três tipos de estigma diferentes:
· As abominações do corpo: as várias deformidades físicas;
· As culpas de carácter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualidade, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical;
· Os estigmas tribais de raça, nação, e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família.
Segundo Pedro Maria (idem, pp.35-36), apresenta dois estigmas acrescentados por Paulo de Carvalho: Os detentores de profissões consideradas abomináveis em Angola, como o cangalheiro (o agente funerário e o trabalho de agência funerária), o coveiro em cemitérios e quem se ocupa de cadáveres em casas mortuárias, em relação a quem se utilizam epítetos próprios; Os grupos de pessoas extremamente pobres, em relação às quais os contactos formais se resumem indispensável, particularmente no quadro da relação profissional.
Goffman [Idem, p.36] acredita que a pessoa estigmatizada possui duas identidades: a real e a virtual. A identidade real é o conjunto de categorias e atributos que uma pessoa prova ter; e a identidade virtual é o conjunto de categorias e atributos que as pessoas têm para com o estranho que aparece a sua volta, portanto, são exigências e imputações de carácter, feitas pelos normais, quanto ao que o estranho deveria ser. Deste modo, uma dada característica pode ser um estigma, especialmente quando há uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real.
Para Goffman os normais constroem uma teoria do estigma. Eles constroem uma ideologia para explicar a inferioridade das pessoas com um estigma e para ter controle do perigo que ela representa, acreditando que alguém com um estigma não é verdadeiramente humano. Os estigmatizados possuem uma marca, significando então que, sua identidade social é deteriorada para conviver com os outros. Portanto, a sociedade é responsável por estabelecer os meios de categorizar as pessoas e os atributos tidos como naturais para os membros de cada uma dessas categorias. O estigma é estabelecido a partir desta lógica social, onde são dadas identidades virtuais às pessoas não previstas nessas categorias, as quais são tidas como estranhas [Idem,p.36].
Na nossa sociedade, a gravidez precoce é um elemento identificado como estigma. É quase comum ouvir ou observar situações de estigma do género na escola, ou seja, os normais têm agido nalguns casos, de forma inconsciente, noutros de forma consciente aos estigmatizados, acabando em certos casos, se excluírem da escola. Portanto, com base a teoria de estigma, pretendemos compreender as atitudes das adolescentes grávida da escola José Manuel Salucombo de Saurimo, em função do processo de estigmatização a que são submetidas.
METODOLOGIA E TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS
A nossa pesquisa é descritiva, e qualitativa. Para a produção de dados, utilizamos observação participante e entrevista semi-estruturada.
Uma das principais técnicas do método etnográfico é a observação que, pode ser participante ou não participante. Quando os sociólogos, a partir da Escola de Chicago, começaram a utilizar esta técnica, num contexto em que já não são os ‘’outros’’ o objecto de estudo, há uma maior proximidade entre o observador e observado. Goffman postula que, numa observação participante devemos considerar que os actores se comportam da forma mais adequada em função do auditório. Por isso o investigador deve ter em conta que, qualquer acção, neste sentido, não pode ser todo ‘’real’’, é tomada em atenção a sua presença de forma a dar, em certos casos, ‘’boa’’ impressão. Porém, é a técnica que permite prestar maior atenção ao ponto de vista dos actores (Guash, apud Manuel 2010:22).
De acordo com Rudio e Lobiondo-Wood z Olabuénaga et al (apud, Simões 2016:46) Não se confunda a observação do dia-a-dia com a científica. é que esta ‘’científica’’ é exige um plano e objectivos previamente definidos. Sendo como tal uma técnica sistematizada, resultado de um planeamento e controlo da sua objectividade.
Quanto a entrevista semi-estruturada, segundo Simões (2016:57) esta entrevista é utilizada quase exclusivamente na investigação qualitativa. Em termos mais práticos, ela não passa de um guião com os aspectos essenciais a serem inquiridos. Como semidirectiva que é, o entrevistado possui uma maior margem de liberdade, contrariamente a entrevista estruturada /directiva). Isto permite que, em determinados momentos, se possam colocar ao entrevistado algumas questões não constantes no guião.
As observações foram realizadas no período entre Junho a Agosto de 2014 à 2018. A nossa observação participante constituía em participar na parada, actuação dos seguranças e associados, e assistir duas aulas. Sendo assim, poderíamos considerar que, partiríamos dos dados para tentarmos compreender o fenómeno. Mais o principal cenário escolhido por nós, foi a pátio da escola, onde se concentram todos os estudantes no momento de intervalo. Quanto às entrevistas, entrevistaríamos 10 estudantes, e 1 indivíduos ligados à secretaria da escola. Dos quais, 3 estudantes da 10ª classe, 2 da 11ª Classe e 1 da 12ª Classe do período da manhã. E 2 estudantes da 10ª, 1 da 11ª Classe e 1 da 12ª Classe do período da tarde e 1 membro da secretaria. As entrevistas foram feitas com base no guião de recolha de dados, onde um gravador ‘’caça palavra’’ fosse o instrumento utilizado para o registo das entrevistas.
Para a realização das entrevistas aos membros obedecemos ao seguinte critério: Idade inferior a 19, estudante disponível em falar, ter acompanhado um caso de estigma ou ser a estigmatizada. Assim sendo, as entrevistas aos estudantes foram realizadas nos dias 20 de Junho a 4 de Julho de 2017. Sendo que, 6 entrevistas foram realizadas no período da manhã, e 5 entrevistas no período da tarde. Foram realizadas no pátio da referida escola. Cada entrevista teve a duração aproximadamente 15 minutos. Ao logo da pesquisa, nos deparamos com várias dificuldades, pós que, os entrevistados não apareciam nos dias e horas combinados, problemas de confianças, Receio e impedimento total por parte de alguns professores a fim de nos concederem uma entrevista, mesmo com a autorização da Direcção da Escola. Igualmente, não conseguimos entrevistar estudantes do período pós-laboral, em função da situação geográfica da residência em que nos hospedamos. E também, por ser numa fase em que, as temperaturas estavam muita fria, sendo que, a maior parte das gestantes não comparecia na escola.
APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Neste ponto analisaremos os resultados da nossa pesquisa qualitativa, realizada no seio da escola. Os resultados não podem ser generalizados, uma vez que os entrevistados não constituem qualquer amostra representativa, nem todos os estudantes de Angola, nem tão pouco da escola em analise.
Na actualidade vê-se o exercício da sexualidade começando cada vez mais cedo, impulsionado pela dinâmica social que leva crianças a adolescerem precocemente. A iniciação da actividade sexual pode gerar grandes consequências, uma delas é a gravidez indesejada que levam adolescentes a ingressarem na vida adulta rapidamente mesmo não estando preparadas psicologicamente, levando a jovem a mudar completamente seu modo de vida. A gravidez na adolescência é um fenómeno que vem sendo discutido a cada ano no mundo, por ser motivo de preocupação devido às consequências. Para Guimarães (apud, Araújo et al:2016) as causas de uma gravidez na adolescência, é multi-causal e sua etiologia está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados em: Factores Biológicos, Factores de Ordem Familiar, Factores Sociais, Factores Psicológicos.
Procuramos saber por parte dos nossos entrevistados sobre as principais causas da gravidez precoce, os três entrevistados apontaram como as principais causas da gravidez precoce, a pobreza, a falta de diálogo familiar e as más companhia:
``Os principais motivos da gravidez precoce são: a falta de apoio familiar, conselhos de más companhia e por situações financeiras´´(E1).
Assim iremos de apresentar as causas mais pertinentes no nosso contexto: A falta de diálogo sobre a sexualidade no ceio familiar; A pouca adesão ao planeamento familiar e métodos contraceptivos; A situação socio-económica; O não cumprimento do papel da escola na educação sexual do aluno.
A FALTA DE DIÁLOGO SOBRE A SEXUALIDADE NO CEIO FAMILIAR
Para cumprir com os objectivos da nossa pesquisa, questionamos os nossos entrevistados, sobre a existência ou não de diálogo familiar sobre a educação sexual, as reacções são diversas, uns afirmaram que não existem diálogos na sua família, ou afirmam existir uma vez a outra, e um número reduzido que afirma categoricamente que têm existido. Más a resposta, mas completa foi apresentado dentre os 10 entrevistados pelo nº7, que afirma a relação nem sempre tem sido boa, pós a estudante nesta condição sofre muito de estigmas:
‘Quase não existem diálogos na minha família. Porque os meus pais estão sempre ocupados com o trabalho’ (E7).
Quase não existem reuniões familiares, tudo porque o chefe de família está, mas fora do que dentro (trabalho). Não há um diálogo ou uma educação sexual para os filhos. Como consequência meninas evoluem para as relações sexuais prematuras que lhes levam a gravidez precoce e, com ela, disfuncionamento de educação em cadeia, pós mãe e pai também não estão suficientemente maduros para educar o novo ser, a nova criatura, e ficamos diante o cenário de uma criança a criar outra criança, sem apoio nem devidos cuidados, ela acaba por desistir d escola para se dedicar exclusivamente da nova criatura. A vivência sexual dos filhos mexe muito com a estrutura dos pais, no sentido que reactiva a própria sexualidade vivencial por eles, com os próprios fantasmas que a sua adolescência trouxe e que, provavelmente, na maioria das vezes não puderam ser elaboradas de forma adequada.
Observa-se que actualmente uma desconexão entre filho e pai, ou seja, dificilmente realizem num diálogo semi-aberto ou mesmo aberto, onde os dois sintam-se a vontade expondo algumas inquietações relevantes, no que concerne a sexualidade. Infelizmente o tabu tomou conta de muitos responsáveis de família, empurrando a responsabilidade do mesmo apenas a escola. Alegando-os que um trabalho, proposto pela escola, pode ser importante nesse processo. Desta forma, os adolescentes acabam por aprender não apenas com os ensinamentos da escola, mas também com as experiências de outrem (amigo, vizinho e colega), ou seja, apreendem de forma bruta naquilo que diz respeito a sexualidade. Outros apreendem em filmes, telenovelas etc. A maior parte dos estudantes adolescentes, na escola José Manuel Salucombo (Saurimo), alega que dificilmente os chefes de família (pai, mãe, tio, tia etc.) realizam um exercício do género (diálogo sobre a sexualidade).
Na visão do Pedro [2014: 76] ‘’A educação sexual busca esclarecer questões relacionadas ao sexo, livre de preconceito e tabus. Em muitas famílias angolanas, falar sobre sexo é um tabu, pela falta de preparação adequada dos pais, inclusive alguns professores de educação moral e cívica não estão preparados para lidar com temas relacionados a educação sexual. Visa preparar os adolescentes para a vida sexual de forma segura e responsável, chamando-os a responsabilidade de cuidar do seu próprio corpo para que não ocorram situações indesejadas, como contrair doença sexualmente transmissível, gravidez precoce e indesejada’’
O primeiro contacto social que o indivíduo estabelece desde o nascimento, acontece dentro da família. Por isso a responsabilidade na formação de seus membros, por meio da transmissão de valores, na sustentação de regras sociais para que esse cidadão consiga se inserir na sociedade. Para algumas famílias maioritárias do espaço urbano em Saurimo, enquanto estudante, a gravidez na adolescência representa um momento de crise no ciclo de vida familiar. Para a adolescente, a gravidez pode significar uma reformulação dos seus planos de vida e a necessidade de assumir o papel de mãe para o qual ainda não está preparada. Já a maioria, quer seja do espaço urbano ou rural, encaram a gravidez precoce como um factor cultural comum. Numa entrevista concedida ao Jornal Angop (2019), Laurinda Lemessa explicou que na província da Lunda-Sul, sobretudo nas zonas rurais, para as famílias, meninas a partir dos 13 anos de idade já podem ser mães, razão pela qual os números de gravidez precoce tendem a aumentar, colocando em risco o sonho de atingir uma projecção na vida. Lamentou o facto de pais e encarregados de educação ainda se fecharem a cerca da sexualidade com os filhos, alertando para o diálogo e investirem mais na formação. E de acordo com dados disponíveis, na Lunda-Sul, 208 adolescentes correm o risco de perder o presente ano lectivo, devido a gravidez precoce.
A POUCA ADESÃO AO PLANEAMENTO FAMILIAR E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS
Actualmente apesar do aumento de conhecimentos e maior acesso aos métodos anticoncepcionais nas últimas décadas, grande proporção da população de adolescentes sexualmente activas ainda não previne a gravidez. Assim, a maioria dos jovens sabe que é possível evitar a concepção, todavia, não possui conhecimentos suficientes para preveni-la. É importante reiterar que a gravidez na adolescência pode acontecer pela falta de prevenção, descuido, pode ser indesejada ou até mesmo planeada, mas é necessário considerar as circunstâncias pessoais e sociais dessa ocorrência.
Segundo a Coundtown EUROPE (2015:p1) define o planeamento familiar:
‘’Um conjunto variado de serviços, medicamentos essenciais e produtos que possibilitam às pessoas individuais e em casal alcançar e planear o número de filhos desejados, o espaçamento e programação dos nascimentos. O planeamento familiar inclui métodos contraceptivos modernos tais como pílulas, injectáveis, implantes hormonais, métodos de barreira vaginal e preservativos masculinos e femininos. Os serviços de planeamento familiar incluem cuidados de saúde, aconselhamento, informação e educação relacionados com a saúde sexual e reprodutivo’’.
Em Saurimo, um número elevadíssimo de adolescentes que vivem perdidos na sexualidade, vários são os factores que têm lhes impulsionando. Desde as ausências dos responsáveis da família, ou seja, existem encarregados presentes pessoalmente mais ausentes como responsável, que só observa e proporciona a libertinagem ao adolescente, bem como os encarregados ausentes, mais presentes em termos de educação, orientação e acompanhamento específico. Muitos não procuram ser amigo dos seus educando, nem procuram saber das reias dificuldades que este tem enfrentado no dia a dia, nem tão pouco a respeito dos seus desempenhos académico.
Com base nas barreiras no acesso de adolescentes ao planeamento familiar. Isto é, barreiras legais e sociais. As restrições sociais, culturais ou religiosas sobre a sexualidade na adolescência podem conduzir a barreiras implícitas e explícitas ao planeamento familiar; Educação sexual limitada; Falta de compromisso político e financiamento. A Direcção Provincial da Saúde nesta região do país, deve envidar os esforço, a fim de se criarem programas políticas que lidam com esta situação. Caso contrário, o futuro da nação (juventude) estará ameaçado.
A SITUAÇÃO SOCIO-ECONÓMICA
Compreendemos a complexidade do mercado de trabalho dos encarregados de educação, mias, é preciso que estes, tenham uma atenção enorme aos seus educando, caso contrário, estarão propensos há certos desvios comportamentais.
O capital económico em diversos contextos tem sido a base fundamental para determinar as diversas classes sociais, assim sendo, surgem à classe mais baixa, predominantemente pela pobreza absoluta ou relativa. E no contexto em análise, a gravidez precoce está associada maioritariamente a famílias que se encontram na linha da pobreza absoluta. Pós que, lamentavelmente os adolescentes encaram a sexualidade como a única saída para ascenderem na vida. Deixam-se corromper com presentes luxuosos, elogios etc. Os responsáveis não podem fazer, sendo que, esta adolescente torna-se então nalgumas vezes a responsável da sustentabilidade da família. Numa altura em que o país encontra-se mergulhado numa crise económica.
``Os principais motivos da gravidez precoce são: a falta de apoio familiar, conselhos de más companhia e por situações financeiras´´(E6).
O FRACASSO DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO E ORIENTAÇÃO SEXUAL DO ALUNO.
Assiste-se meninas envolverem-se prematuramente em acto sexuais, resultando destas práticas gravidez precoces, mesmo sem preparação adequada para educar o novo ser, ficando num cenário de duas crianças a educar outras crianças que acabam de nascer. Por isso a questão da educação é bastante complexa para evitar a curiosidade sexual que está ao alcance dos olhos de qualquer um por toda parte: Na Internet, na televisão, no cinema, nas revistas etc. [Moniz Bala, 2014:75].
Infelizmente existe um conflito na escola entre a necessidade e a realidade. Isto é, necessidade de uma educação moral e cívica, más profunda nos adolescentes, para lhes inculcar melhor forma de estar na sociedade e na convivência sadia com outros membros da sociedade. Ou seja, a educação caracteriza-se pelo acto ou efeito de educar que visa à criação de condições que facultam a aquisição de conhecimentos, capacidades e competências desejáveis para um desenvolvimento pessoal e social que permite viver de forma livre, digna e civilizada. Tal significa que a educação é uma acção duradoura e universal, que é exercida nas crianças e jovens por vários elementos responsáveis que se caracterizam pelos pais, os encarregados de educação, os professores e os directores de turma. Cada um destes elementos tem uma acção directa sobre o educando.
Procuramos saber por parte dos nossos entrevistados se a escola tem promovido palestras e seminários sobre a educação sexual, oito entrevistados afirmaram que não, e dois afirmaram tem havido uma vez a outra:
‘‘A escola quase não organiza nenhuma palestra ou debate sobre a gravidez precoce, nem sobre a fuga a paternidade. A direcção preocupam-se, mais em aplicar medidas disciplinares nos estudantes, do que resolver as devidas dificuldades dos mesmos’’(E8)
A educação sendo um processo que visa o desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais, de todas as faculdades e aptidões do educando, num contexto de socialização progressiva e de uma adaptação aos valores morais e sociais, normas de conduta, da transmissão de uma geração para outra. As escolas não executam verdadeiramente o significo da educação no sentido amplo. Isto é, educar o indivíduo em todos os aspectos. Portanto, a educação e a orientação sexual, devem fazer parte da educação ministradas nas várias instituições de ensino, saúde e religiosas desta região do país.
Segundo Braz [Apud. Pedro,2014:74]: A orientação sexual ocorre de um processo sistemático nas escolas, nos hospitais ou outras instituições especializadas em transmitir informações sobre o uso adequados dos métodos contraceptivos, anatomia do corpo, aborto e consequências em gerar uma vida. Enquanto a educação sexual resulta de informações obtidas nas interações sociais relacionadas ao sexo.
Para que este processo ocorra com menos dificuldades, é necessário que as novas gerações de professores sejam formadas dentro desses parâmetros e compreendam o papel que lhes estará destinado como formadores de consciências. E para que se tenha êxito não basta apenas a escola e o professor, mas também da participação da sociedade em geral em particularmente das famílias. Kundongende [2013:93]. Assim cabe a escola, capacitar os professores, bem como educar o aluno para que este consiga superar os desafios que a vida lhe oferecerá.
A GRAVIDEZ PRECOCE COMO FACTOR NO ABANDO ESCOLAR
Certamente que existem inúmeras consequências na gravidez precoce. Tais como o abandono escolar; Alto nível de fecundidade; Mortalidade materno-infantil e o aborto. Dentre as várias consequências da gravidez precoce apresentadas, constitui o nosso objecto de estudo apenas a primeira apenas a primeira ‘o abandono escolar’, pós que, trata-se da base fundamental da nossa pesquisa. Podendo ainda existir outras consequências que eventualmente não tenham sido referenciados neste ensaio, porém acredita-se que esta abordagem servirá de paradigma na descoberta de outras consequências nesta região do país. Portanto, analisaremos este fenómeno a partir do conceito de estigma proporcionado por Goffman.
Para Maria [2012:4] Na escola, tem se registado um elevado índice de abuso emocional por parte do professor. Que Consiste em: Alterações, atrasos ou retrocessos no desenvolvimento mental e emocional; Aparecimento repentino de perturbação na linguagem; Reacções emocionais excessivas perante os pequenos erros.; Medo de extremo de qualquer situação nova em sua vida; Respostas inapropriadas a situação nova na sua vida etc.
O fenómeno do abandono escolar precoce parece assim, encontrar-se numa fase de transição, mais do que numa fase de final anunciado. O perfil do aluno em risco demonstra em geral um atraso escolar significativo, ausência de ambições escolares e os pais e/ou encarregados de educação não consideram a escola como um valor, mas sim como algo que não traz grandes benefícios e o estigma por parte do professor ou colega. Nesta instituição, observamos que, a maior parte de estudante adolescente concebida abandona a escola pelas seguintes causas:
‘‘Existe um tratamento desigual na adolescente concebida. Geralmente são transferidas de período’’(E2).
Quanto à medida disciplinar. O professor que comete contra o estudante geralmente não é submetido à medida disciplinar, e muitos casos nem é advertido. Leva-se na velha teoria de que o professor sempre tem razão. Procuramos também saber por parte dos nossos entrevistados, o porquê que as estudantes concebidas são transferidas de período. Os nossos entrevistados apontaram diversos factores:
‘‘Segundo eles (direcção) é para que elas não influenciem as outras alunas’’ (E4).
Para cumprir com os objectivos da nossa pesquisa, questionamos os nossos entrevistados, sobre como tem sido a relação da estudante concebida com os colegas e professores, as razões apresentadas, mas completa sobre a relação da estudante concebida os colegas e professores foi apresentado dentre os três entrevistados pelo nº3, que afirma a relação nem sempre tem sido boa, pós a estudante nesta condição sofre muito de estigmas:
``A relação por parte tem sido boa, mais noutras não, pós algumas colegas na turma têm sofrido estigma por parte de professores e colegas’ (E3).
E finalmente, procuramos saber por parte dos nossos entrevistados sobre os principais motivos que levam a estudante concebida desistir da escola, os nossos entrevistados apontaram como os principais motivos, o estigma por parte dos colegas e professores, problemas económicos bem como a falta de diálogo na família:
``Uma vez ela concebida, 1º é que a gravidez trás consigo várias responsabilidades, ela arca despesas, efeitos colaterais da gravidez, pode estar na base da desistência, outras não conseguem encarar a realidade da situação o preconceito dos colegas etc´´(E9).
Segundo a tipologia de abandono escolar apresentada por Janosz [2000] Os discretos, os nãos empenhados, os com baixo desempenho e os inadaptados.
Partindo da tipologia apresentada por Janosz, construiremos uma quarta pouco abordada, isto é, aquela que coloca a escola como o principal impulsionador na opção de abandono escolar por parte do aluno. Ou seja, notamos que nesta instituição (José Manuel Salucombo) os professores gozam de diversas imunidades nos exercícios das suas actividades laborais. Em muitos casos menosprezam as estudantes (grávidas), expondo-as permanentemente como exemplos negativos. Não é errado utilizar este acontecimento como exemplo na sala de aula, mas quando é feito por excesso, ali sim torna-se preocupante e desastroso, pós trata-se da reputação de uma estudante, que isso pode levar os seus colegas de turma e outrem a olharem de maneira diferente (chamando-as nomes etc.) e em muitos casos sirva como motivo para os conflitos direito. Por isso, convém ao professor saber respeita os alunos, a sua reputação bem como as suas escolhas de vida, pós só assim os alunos retribuirão esses princípios ao seu professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em conta a reflexão que acabamos de fazer em torno da gravidez precoce, levou-nos a perceber que as adolescentes actuais através do fenómeno supracitado, são caracterizadas por profundas mudanças, e que abrangem diversos sectores das suas vidas. Entendemos que o excesso de regras imposto pela direcção, e a forma com que são estigmatizadas por parte de certos professores, colegas e membros da secretaria e da associação de estudantes , em muitos casos tem obrigados as estudantes gestantes a olharem ao abandono escolar como a solução de certas humilhações e juízo de valores, bem como a localização geográfica das suas residências. Uma vez adolescente, e transferida para o período pós-laboral, torna-se impossível continuar a frequentar regularmente a escola.
Sempre que o problema envolvem aluno e professor, a resolução nunca é feita de forma parcial, e nem amigável, pós a mais tendência que a aluna seja a mais prejudicada. Se pretendamos que a escola seja na realidade um lugar onde se cultiva a moral, o respeito mútuo etc. É necessário que mudassem de paradigma comportamental, não só dos alunos, mas também do corpo docente, pós assim a escola, o Município em fim a sociedade sai a ganhar.
Pude entender que a relação entre a estudante concebida e os seus colegas e professores, não têm sido boa, pós que, elas são estigmatizadas. No que concerne as principais causas da gravidez precoce, os nossos entrevistados apresentaram-nos diversas causas. Finalmente podemos afirmar que, a pesquisa mostrou-nos a grande necessidade de combater o estigma e exclusão social, que têm contribuído como factor de abandono escolar por parte das estudantes gestantes.
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